Numa Tarde de Inverno
Sabe, pra falar a verdade, eu nem sei se sou o que pensas.
Essa personalidade forte,
esse jeito de quem consegue tudo com determinação, esse orgulho das próprias
conquistas. Tudo
isso? Ah, isso é apenas parte de uma imagem que sinceramente, tem mil faces.
Nem sempre foi assim.
Minhas frases e teorias.
Meus livros e pensadores. A dança, o teatro, a música, a poesia, os textos. Não
surgiu do dia pra noite. Tu já sabias disso? Então esquece. Foi só pra te
impressionar.
Espera! Ouve mais um pouco.
Não vai agora.
Deixa eu te falar do medo,
do meu sonho.
Deixa eu te contar que a
cada esquina da vida me apareceu um novo desafio, e nem tudo foram flores. Que hoje eu te dou o meu
sorriso porque já chorei.
Chega mais perto, olha bem.
No fundo tu vais notar que
eu tenho inseguranças terríveis e uma preocupação enorme em te decepcionar.
Que sou cheia de imperfeições. Assim feito você.
Mas presta atenção no que
eu te digo. No íntimo, eu só quero te mostrar que confiança é a base de tudo.
Que amor a gente consegue com o tempo. Que dúvida é aquilo que tu sentes,
quando sabe exatamente o que tem a fazer. Que a gente briga com quem ama.
Família é o princípio de tudo, mas a sua base está
dentro de você. E pra perceber, você tem que olhar e se criticar.
Consertar as partes feias e conservar o que há de bom.
Olha pra mim, a minha
intimidade não tem brilho nenhum. É rotina de alguém que trabalha e faz da vida sempre uma tentativa de
realizações. Que buscou nos sonhos a esperança de um dia se fazer entender. E
espera teu sorriso em troca de um humilde bom- humor. Alguém que está sempre ali, pra quando tu
precisares. Que
não foge diante do problema. Enfrenta contigo essa dor.
Agora, eu te pergunto: Isso
basta?
Essa convicção de independência, de que amor próprio é suficiente. Isso é bobagem!
Eu queria mesmo era dividir
a cama, a mesa, o futuro.
E vou andando por aí. Reinventando-me.
Tenho sido tantas mulheres que não sou, pois essa correria me deixa tão cansada.
E vou andando por aí. Reinventando-me.
Tenho sido tantas mulheres que não sou, pois essa correria me deixa tão cansada.
Tantas vezes me convenci de que estava fazendo o melhor...
Amei a liberdade. Conquistei a companhia.
Testei um andar diferente. Um cabelo novo. A música da moda. Presenciei mais
lugares. Desfrutei de outros gostos. Decidi o meu destino com tanta firmeza, e
aqui estou.
Queria mesmo era te falar da minha infância, das brincadeiras de sábado a tarde na rua, dos
almoços de domingo com a família. Das flores que vi na primavera, e das estrelas que contei na noite de
verão.
Eu pude viver tantas
coisas. Coisas tão importantes pra
mim, e que talvez pra ti, não sejam interessantes.
É. Talvez a minha estrada
não seja o que você esperava.
Mesmo assim, eu desejo
profundamente, que tu também possas um dia me contar dos teus medos e dos teus
sonhos.
Que essa breve conversa não
sopre como um vento fino e gelado numa tarde de inverno. Mas, que seja como as notas
de uma música ao tocar teu coração.
Afinal, quando as minhas palavras tornarem-se singelas, é porque elas roubaram a luz
que havia em mim, e foram iluminar o teu caminho.