quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Relíquia

Passo Fundo, julho de 2009. 

Numa Tarde de Inverno

Sabe, pra falar a verdade, eu nem sei se sou o que pensas.

Essa personalidade forte, esse jeito de quem consegue tudo com determinação, esse orgulho das próprias conquistas. Tudo isso? Ah, isso é apenas parte de uma imagem que sinceramente, tem mil faces. Nem sempre foi assim.
Minhas frases e teorias. Meus livros e pensadores. A dança, o teatro, a música, a poesia, os textos. Não surgiu do dia pra noite. Tu já sabias disso? Então esquece. Foi só pra te impressionar.
Espera! Ouve mais um pouco. Não vai agora.
Deixa eu te falar do medo, do meu sonho.
Deixa eu te contar que a cada esquina da vida me apareceu um novo desafio, e nem tudo foram flores. Que hoje eu te dou o meu sorriso porque já chorei.
Chega mais perto, olha bem. No fundo tu vais notar que eu tenho inseguranças terríveis e uma preocupação enorme em te decepcionar. Que sou cheia de imperfeições. Assim feito você.
Mas presta atenção no que eu te digo. No íntimo, eu só quero te mostrar que confiança é a base de tudo. Que amor a gente consegue com o tempo. Que dúvida é aquilo que tu sentes, quando sabe exatamente o que tem a fazer. Que a gente briga com quem ama.
Família é o princípio de tudo, mas a sua base está dentro de você. E pra perceber, você tem que olhar e se criticar. Consertar as partes feias e conservar o que há de bom.
Olha pra mim, a minha intimidade não tem brilho nenhum. É rotina de alguém que trabalha e faz da vida sempre uma tentativa de realizações. Que buscou nos sonhos a esperança de um dia se fazer entender. E espera teu sorriso em troca de um humilde bom- humor. Alguém que está sempre ali, pra quando tu precisares. Que não foge diante do problema. Enfrenta contigo essa dor.
Agora, eu te pergunto: Isso basta?
Essa convicção de  independência, de que amor próprio é suficiente. Isso é bobagem!
Eu queria mesmo era dividir a cama, a mesa, o futuro. 
E vou andando por aí. Reinventando-me. 
Tenho sido tantas mulheres que não sou, pois essa correria me deixa tão cansada. 

Tantas vezes me convenci de que estava fazendo o melhor...

Amei a liberdade. Conquistei a companhia. Testei um andar diferente. Um cabelo novo. A música da moda. Presenciei mais lugares. Desfrutei de outros gostos. Decidi o meu destino com tanta firmeza, e aqui estou. 
Queria mesmo era te falar da minha infância, das brincadeiras de sábado a tarde na rua, dos almoços de domingo com a família. Das flores que vi na primavera, e das estrelas que contei na noite de verão.

Eu pude viver tantas coisas. Coisas tão importantes pra mim, e que talvez pra ti, não sejam interessantes.
É. Talvez a minha estrada não seja o que você esperava.
Mesmo assim, eu desejo profundamente, que tu também possas um dia me contar dos teus medos e dos teus sonhos.
Que essa breve conversa não sopre como um vento fino e gelado numa tarde de inverno. Mas, que seja como as notas de uma música ao tocar teu coração.
Afinal, quando as minhas palavras tornarem-se singelas, é porque elas roubaram a luz que havia em mim, e foram iluminar o teu caminho.